quinta-feira, 1 de maio de 2008

SANGUE EM NÉON

SANGUE EM NÉON
Eduardo B. Penteado


Uma sirene corta a madrugada
E esfarela o meu raciocínio demente
Onde estaria agora,
Não fosse a claridade dos fatos que me cercam?
Estou...
Sou um ponto isolado,
Numa noite em que todos dormem
Ninguém me cerca agora
A não ser o vazio de uma descoberta
Sou um atento observador cego
Guiado pelo tato
Braille, Braille, sou analfabeto!
Absorvi todas as promessas, e fiquei mudo
Não devo gritar, pois é tarde da noite
E eu poderia acordar
E gritar
Eu prometo não gritar, se o sonho for real
Mais uma...
Mais uma promessa absorvida
Arquivada
Esquecida
Alguém freou no asfalto fosco!
Como eu queria ser sincero neste momento absurdo
Queria que tudo fizesse sentido a um mero estalar de dedos
Mas a cortina torna a subir
E o palco permanece vazio
E eu, sozinho em meio a futilidades espalhadas
Não!
Eu é que estou espalhado, e pouco a pouco
Passo a fazer parte das paredes
Atravesso paredes e encarno em outras vidas que conheço.
Sem sair do lugar
A madrugada chegou, sem nada mudar

Até desconfio dos caminhos retos e sem espinhos
Mas isso não importa mais
Meus cortes já começam a sangrar
Escuto freadas no asfalto lá fora
Lá dentro
Gritos, estilhaços e sangue na minha cortina
É o sangue frio em minhas veias que teima em se libertar
Pelos ares vou em delírios de néon vermelho
Sozinho, entre fumaça e rumores
Parindo o último ato.

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