sexta-feira, 2 de maio de 2008

ABAT-JOUR

ABAT-JOUR
Eduardo B. Penteado

Consegui.
Consegui finalmente ser inacreditável!
A porcelana eu quebrei
A flor do campo
Esmaguei,
Sob um coturno imenso
Ha, ha, eu sei.
Aproveitei
E arrotei no meio do poema
Contei o final da piada engraçada
"Por que me olhas assim?
Com minha besta abati o albatroz."
Que engraçado...
Mas qual é a graça?!
É horrível eu já ter lido isso em algum lugar.
Há muito tempo,
Um albatroz era apenas um pássaro
Ainda não era um albatroz
Chega.
Já sei,
Já sabemos onde isso vai dar
Mas será que vai dar?
Você ainda está aí?
Talvez.
Talvez seja melhor calar-me
Escrever a noite toda ou mesmo
sair.
Embrenhar-me em velhos guetos
Tentar-me, divertir
Besuntar-me de tudo aquilo que resolvi execrar
Acordar ao lado de um cadáver
E distribuir minhas farpas ao amor personificado
Como a besta que abat...
...jour. Dia. Luz.
Sim, como eu queria ser um abat-jour!

Não, não é bem isso.
Não é nada disso!
Ainda não completei a transição
Ainda não escrevi a canção
Que todos hão de cantar...?
Ora, cale-se!
Alguém está pedindo para deixar a luz do sol
entrar.
E na TV muda
Alguém agora está morrendo
Não sabia que podia-se sangrar tanto,
em silêncio.
E na TV nada muda
Um filme que eu com certeza já vi
Mas hoje talvez ela esteja certa:
Talvez eu deva mesmo fazer uma pausa
Uma breve pausa desperta
Um breve basta, por que não?
Na obsoleta programação
Para poder dormir e acordar num novo dia...
Sempre!!
Eu sempre gostei delas
Mesmo quando a TV era preto-e-branco
Eu sempre gostei dessas barrinhas coloridas.
Hoje, nem tanto.

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