quinta-feira, 1 de maio de 2008

HIERONYMUS

HIERONYMUS
Eduardo B. Penteado


Corria como uma criança barroca em êxtase
Fugindo do asilo pós-moderno onde guardavam as pessoas sãs
Onde as inscrições em sânscrito
Brilhavam qual luz negra nos neons de vielas sujas
E onde ultramodernas mulheres gordas sacolejavam
Sobre pedestais de cera
Vendendo seus corpos à pederastia de origem nobre
Um quadro roto de Hieronymus Bosch
Decorava a fachada do bordel
Alguns executivos recolhiam seringas usadas na praça do chafariz
Sob o açoite de Pan...
...pan, pan, pan, fazia a chibata nas idéias do rei morto
Do rei posto em liberdade pela morte às avessas
“Libertas”, bradava o pequeno coral de querubins
Lindo asilo, lindo asilo!
De alicerces corroídos por roedores de olhos azuis
Cuidado com as sentinelas!
As sentinelas estão mortas e apodrecem nas guaritas
“Libertas”, bradava o pequeno coral de querubins
Da torre da catedral em chamas
Os sinos tocavam um tango de Astor Piazolla
A rainha estéril abortou
E fez amor com o arlequim de vidro
No canto do pátio
A língua do bardo é devorada por saúvas
No canto de uma ave cega
Um nó na garganta me lembra a forca e o cadafalso
O sol se põe atrás dos muros, mas torna a subir
A imagem do bardo moribundo
Entreabre as portas que pensei ter trancado
E por entre seus lábios pretos e rachados pela morte
Sopra uma praga mais implacável que a peste
E, das catacumbas, os querubins ecoam...
“Libertas, libertas,
Libertas!”

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