tag:blogger.com,1999:blog-46491482998894509172024-03-08T16:32:04.004-08:00Sal em Bocas SecasEduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.comBlogger51125tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-61828858837382640982008-05-02T19:03:00.001-07:002009-08-12T15:34:36.127-07:00DEUS-JÁ-VIDEUS-JÁ-VI<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Foi numa praia em preto-e-branco<br />Numa noite expressionista<br />Sim, eu quase me lembro bem<br />Foi na época do meu primeiro monólogo com<br />deus(?)<br />Eu gritava e ele não respondia<br />Apenas me olhava<br />E eu andava calçado na água salgada<br />Um grito me acordou<br />E vi-me num sonho redondo e simétrico<br />"Socorro," gritou o que fui<br />De leve esbarrando no que sou<br />Torci para não ser reconhecido<br />Mas na multidão de eus,<br />Fui eu o escolhido<br />Cortei-me fundo, procurando uma veia<br />Mas só achei um veio de mercúrio<br />E eu estava longe, muito longe<br />Longe demais para gritar:<br />Morte, riso, planta, mulher<br />deus seja aquilo que eu o quiser!Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-66327289913500291362008-05-02T19:02:00.001-07:002008-05-02T19:02:43.772-07:00TREVASTREVAS<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />É linda a lua do meio-dia<br />Brilha tola em sua própria mentira<br />Brilha sobre os espectros<br />Brilha sobre a abadia<br />Reina sobre os ausentes<br />Reina sobre o messias<br /><br />Os Monges Ébrios de Vinho<br />Não mais habitam a abadia<br />Não mais descem a escadaria<br />Vazia<br />Deixaram-me aqui, sozinho<br />Um brinde, então<br />Aos espectros<br /><br />É linda a lua do meio-dia<br />Brilha tola em sua própria mentira<br />Atravessei o espelho, e voltei<br />Vi meu outro eu, sereno<br />E me imitei<br />Cantei um poema hermético<br />Sem rimas, sem versos<br />Apenas sons desconexos<br />Escutei o canto dos espectros<br /><br />Temo pela minha sorte<br />Tremo pela minha morte<br />Mas como é serena a minha morte...<br />Atravessei a fina película, e voltei<br />Vi meu outro Deus, e finalmente<br />Evaporei<br />Como a última gota do oásis fictício<br />Na periferia de um vasto deserto.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-87468074096074250072008-05-02T18:59:00.000-07:002009-08-09T19:39:35.405-07:00AREALAREAL<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />I<br /><br /><br />Um dia, parti de olhos vendados<br />Para desbravar os desertos...<br />Pisoteei flores raras em teu oásis de diamante<br />Mas o mundo é infinitamente finito!<br />Sempre em frente, em minha marcha<br />Regressei ao ponto de partida<br /><br />Foi então que vi os muros.<br />Encontrei uma porta sólida e impenetrável<br />Justa e inevitável<br />Cuja única chave jaz perdida<br />Sob as areias dos desertos de minha vida<br /><br />Parto agora numa busca mais objetiva.<br />Buscarei a chave que abre a tua porta<br />Tudo que possuo agora é o tempo que me resta<br />Uma enorme ampulheta<br />Um oceano de areia<br />E um fio de luz que escapa por uma fresta.<br /><br /><br />II<br /><br /><br />Se fosse definir para ti este momento louco<br />Acho que começaria por descrever os ecos<br />Loucos e ocos de lógica<br />Que reverberam contra mim.<br />Às vezes sinto-me como uma caverna secreta<br />Um poço de sons<br />Uma mera estrutura de ossos, sangue e olhos<br />Com todo o resto a ser preenchido<br />Por uma expectativa de um algo mais<br />De um grito...<br /><br />De uma louca corrida por areias úmidas<br />De escuridão.<br />De um passo em falso<br />Na direção de um lindo abismo<br />Que foge à compreensão das outras pessoas<br />Pois dirige sua queda para cima<br />Rumo a um parafuso incontrolável de descobertas<br />E déjà-vu<br />Girando, girando<br />Mãos, olhos, bocas, vidas, tempos...<br /><br />De tempos em tempos<br />O ponteiro dos segundos se mexe<br />Um brilho de diamante me ofusca<br />E eu alucino.<br />De tempos em tempos<br />A porta deixa escapar um fio de luz<br />Instantâneo, porém intenso<br />Tímido, lindo e tenso<br />Apenas um pequenino e tímido fio de luz<br />Que ilumina a periferia dos desertos.<br /><br /><br />III<br /><br /><br />Tenho areia nos olhos e água pura nas mãos<br />Sinto uma lágrima seca no rosto<br />Coagulando<br />E em meio a uma tempestade de areia<br />Vejo alguém a girar,<br />Girando no falso redemoinho da ampulheta.<br />Vi meu sangue na areia<br />Dei as costas para a porta.<br /><br />Tenho areia nos olhos e uma cascata nas mãos<br />Por onde escapas de mim<br />Grão, grão, grão após grão<br />Girando mãos<br />Girando olhos<br />Girando uma tranca que, simplesmente... não.<br /><br />''Um olho na fechadura,'' repete o eco<br />Mas tem de ser diferente!<br />Tende a ser referente:<br />O arame farpado que me isola de ti<br />Também cerca o meu horizonte<br />Não vejo campos, não vejo montes<br />Abre então a porta do teu desejo.<br /><br /><br />IV<br /><br /><br />A lua surgiu<br />E cobriu meus desertos.<br />Aqui e ali emergem espectros<br />Que fitam o sangue em minhas veias<br />E voltam a desaparecer nas areias.<br />Fechei os olhos,<br />E dentro de minha própria escuridão,<br />Adormeci.<br /><br />Sonhei que a areia me cobria, e gritei!<br /><br />Quis esmurrar a porta, como que possuído<br />Mas ela se transformou em fino cristal<br />Frágil demais para ser destruído.<br />Desaprendi o limite entre o sonho e o real<br />E brindei à dor do não concluído.<br />À minha volta, a paisagem se modifica<br />Os espectros me chamam para outra dimensão<br />E do outro lado da porta de cristal<br />Alguém sussurra o meu nome... em vão.<br />Em vão!<br /><br /><br />V<br /><br /><br />Um dia, parti de olhos vendados...<br />Estou fora dos desertos<br />As areias se transformaram em pó e cinzas<br />Junto com os princípios básicos da paixão<br />Repenso estroboscopicamente aquilo que vivi<br />Areia, ampulheta, abismos, gritos, gritos!<br /><br />Um adeus às armas<br />Um impossível adeus às lágrimas<br />Um improvável adeus aos lugares-comuns.<br />Ora, boa noite!<br />Que surpresa vê-la aqui...<br />Para onde ir e de onde vir?<br /><br />Inocência, deixe-me rir<br />Inocência, leve-me para longe dos desertos<br />Vastos e úmidos desertos<br />Cobertos por uma fina película de sangue<br />Sangue na areia<br />Uma rosa branca na areia<br />Ela está morta, e jamais gostou de rosas<br />Estou livre...<br />O céu se partiu, e está chovendo vidro.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-57843492339314708062008-05-02T18:58:00.000-07:002009-09-22T03:18:21.193-07:00LÁGRIMALÁGRIMA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Teus olhos inundam meu pensamento<br />No silêncio tardio de todas as noites,<br />De uma saudade nova e sinfônica<br />Tão recente quanto indecente<br />Grandiosa, phylarmonica<br />Sem similar nem precedente<br />Confesso, ardente<br />Todas as coisas que ainda não fizemos<br />Todas as palavras que ainda não dissemos<br />Aumentam ainda mais<br />A saudade do que ainda não houve<br />E se concentram numa lágrima azul<br />Sim, azul<br />Um resumo de tudo o que penso<br />Uma sinopse de tudo o que sinto<br />Uma lágrima que nasce no canto de meus olhos<br />Um canto azul de uma cantiga triste<br />Que insiste<br />Insiste em ameaçar-me com a sombra do proibido<br />Mas eu sei<br />Não há proibido dentro de mim<br />Por mais que eu tente me repreender<br />Por mais que eu tente entender<br />Por mais que eu tente me esconder, não consigo<br />É tudo óbvio demais,<br />Fulana.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-38393396813231139972008-05-02T18:57:00.000-07:002009-07-26T01:54:41.001-07:00ESSÊNCIAESSÊNCIA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Às vezes<br />Sinto-me batendo nas teclas de um piano mudo<br />Surpreendo-me camponês<br />Semeando terras estéreis<br />Vejo-me voando com asas de cera<br />Cada vez mais alto, tentando alcançar teus olhos<br />Tentando alcançar com a ponta dos dedos<br />Uma lágrima que cai com o vento<br />Uma gota que se estilhaça ao me aproximar<br />Me faz parar, deitar e chorar<br />E te abandonar<br />E te deixar só em tua ilha distante<br />Longe dos meus versos azuis<br />Longe do meu olhar suplicante<br />Nunca saberás, então<br />Quanta saudade sentirei no primeiro segundo<br />No instante em que me rasgar tua ausência<br />Nunca saberás qual é o gosto de minha essência<br />Não posso mais vagar pelas trevas<br />De tua velha mansão em ruínas<br />Não consigo buscar-te às cegas<br />Numa queda livre que nunca termina<br />No entanto<br />Se tudo que fomos foi poesia<br />Deixo-te uma garrafa de minha essência<br />Infelizmente<br />Vazia.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-86056480299693215382008-05-02T18:56:00.000-07:002009-08-12T15:41:02.647-07:00RECATORECATO <br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Tu, que estás sempre presente<br />A cada dia num rosto diferente<br />Anônima e perdida entre minhas lembranças<br />Memórias de um tempo de recato, distante<br />Em que todo o meu amor cabia numa estrofe<br />E todo o meu desejo, num olhar de relance<br />Olhar que despia teu tabu num segundo<br />E te vestia com toda a libido do mundo<br />Assim, sem mais nem menos<br />Como num longo estalar de dedos<br />Te fazia mulher<br />À sombra de minhas ilusões e medos<br /><br />Sempre te amei assim, nas sombras<br />Como a platéia contempla a atriz<br />Como a alcatéia fantasia amores de camarim<br />Que gosto teria teu beijo num camarim?<br />Nunca ousaria dizer-te estas linhas trêmulas<br />Pensava eu<br />Mas agora é tarde demais<br />A língua bateu nos dentes<br />A represa se rompeu<br />Mas valeu<br />Acho eu<br />Adeus.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-42577307686671980082008-05-02T18:54:00.000-07:002009-08-12T15:35:39.840-07:00SALGUEIROSSALGUEIROS<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Que cada lágrima derramada no silêncio da distância<br />Se molde nos arcos de nossa ponte de pedra<br />Que atravessa um riacho turvo de insegurança<br />E abstinência.<br />Nossa ponte não toca as margens, e nem poderia,<br />Pois nunca tivemos começo nem fim<br />...e nem o tempo.<br />Gosto de contemplar a areia fina da ampulheta<br />Minha mais falsa amiga e infiel companheira<br />E rio,<br />Dançando a valsa do adeus sobre o parapeito de limo<br />Eu rio!<br />Chovendo a areia da verdade sobre a ponte do destino.<br />E entre risos, orquestras e árias, o silêncio:<br />Os salgueiros nos observam das margens, chorando<br />E sonhando:<br />Que cada instante de saudade vivido<br />Se traduza no primeiro momento de um regresso partido<br />E definitivo.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-10828722366950728422008-05-02T18:51:00.000-07:002008-05-02T18:52:21.861-07:00SAIDEIRASAIDEIRA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Andando entre olhos que me odeiam<br />Eu não encontro mais<br />Motivos para rir à toa em bares sujos<br />Nunca mais<br />Então me chamas<br />"Eremita! Pobre ser anti-social!<br />Criatura depressiva<br />Em seu hábitat natural!"<br />Não espero que você me entenda<br />É querer demais<br /><br />Perambular à noite à esmo<br />Simplesmente não me satisfaz<br />Cansei do gosto amargo desses fins de noite<br />De tempos atrás<br />Então me chamas<br />"Eremita! Pobre ser anti-social!<br />Por que negar o bom da vida<br />E nem conseguir ser normal?"<br />Não espero que você me entenda<br />É querer demaisEduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-37034347755607611222008-05-02T18:49:00.001-07:002009-07-26T02:35:31.296-07:00MEDO DE OUTONOMEDO DE OUTONO<br />Eduardo B. Penteado<br />(postumamente, também a Fred Haas, que participaria do clipe)<br /><br /><br /><br />São como balas perdidas<br />As folhas de outono que caem no chão<br />Conheço a promessa<br />A insegurança e o medo<br />Medo de outono, do vento<br />Medo do amor<br /><br />Não consigo invadir<br />O que não me pertence<br />E à noite as folhas desabam<br />Em avalanches<br />Então são folhas de outono<br /><br />A saudade me diz<br />Que não estou tão sozinho<br />É tempo<br />É tempo de risos e vinho<br />Só pra perder esse medo<br />Medo de outono, do vento.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-42991325462770904932008-05-02T18:47:00.001-07:002009-08-12T15:35:54.674-07:00UMA FOTO, UM BILHETE, UMA FLORUMA FOTO, UM BILHETE, UMA FLOR<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />E depois de tudo<br />Só deixaste uma foto<br />Um bilhete uma flor<br />Me vejo menino na foto sem cor<br />Te vejo sonhando ao lado da flor<br />Amor?<br /><br /><br />Fugiste do adeus dos olhos ateus<br />Que fantasiavam os teus olhos<br />Como sendo os meus<br />Me vejo sozinho, menino incolor<br />Te vejo me olhando, de dentro da flor<br />O menino chora na fronteira do mundo<br />E o cinza se torna vermelho profundo<br />Planta a flor na areia, então<br />Terei a ti sempre ao alcance da mão<br />Sempre, sempre ilusão.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-41056095766908142582008-05-02T18:46:00.000-07:002008-05-02T18:47:02.218-07:00RELENTORELENTO<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Voltei à tal da praça molhada<br />Onde antes eu vinha chorar<br />Mais uma vez, só mais esta vez...<br />A praça está úmida e o hoje é seco<br />O beijo é soco, o amor é relento<br />E todo o resto vai ficando assim<br />Em Santa Teresa, em meu pensamento<br />Em minha caneta e em torno de mim<br /><br />Não adianta entender o que houve<br />Pois tudo o que foi foram nadas<br />Um livro impresso em tinta branca<br />Um almanaque de fotos veladas<br />Um almanaque e meio<br />Lábios... longe... seio.<br />A lágrima que teima em não cair<br />O bonde com medo de se molhar<br />A palavra difícil de sair<br />O silêncio, o ruído, o olhar.<br /><br />Um vento noturno diz a que veio.<br />O velho lustre balança, será?<br />Um velho ilustre a se embriagar<br />O ilustre balança e vai desabar<br />Assim como o céu, a chuva e o mar<br />E eu me pergunto, pensando, a sorrir<br />“De onde vir? Para onde partir?”<br />“Não sei,” disse minha alma pequena<br />“Nem sei o que trouxe você aqui.”<br />Digo adeus ao velho, ao lustre e ao bar<br />Fecho os olhos<br />E deixo o vento me dispersar.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-75374805365055268082008-05-02T18:44:00.001-07:002008-05-02T18:44:26.766-07:00TRILHOSTRILHOS<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Olhos, olhos e tudo o mais<br />Vi teus olhos hoje na praça<br />Correndo soltos nos olhos do velho<br />Fitando os olhos do menino franzino<br />Iluminando as luminárias das Neves<br /><br />E foi somente nesta praça<br />Flutuando num outro tempo<br />Fustigada por outros ventos<br />Que a chuva alagou os trilhos do ontem<br />E como nos filmes antigos<br />Tudo ficou mudo e foi-se a cor<br />Tudo pode, nas histórias de amor...<br /><br />A chuva encheu o ar com o cheiro de teu suor<br />Num rompante, sem conter tal ardor<br />Peguei minha saudade pela mão<br />E dancei na praça uma valsa<br />Um rock, um baião<br />Refrescando na chuva torrencial<br />Os sintomas da minha paixão<br /><br />E dançando uma coreografia de raios<br />Canalizei o que havia fantasiado<br />Para um ponto inerte do meu passado<br />Até achar-me num nicho imaginário<br />Um segundo além do presente<br />Sempre um segundo distante<br />Mas vi-te passar tantas vezes de carro!<br />Com tantas pessoas conversaste!<br /><br />Um segundo após o raio<br />Tudo era de novo uma grande ausência<br />Como a chuva caindo nos trilhos do bonde<br />Que hoje não quis se molhar.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-16263522283330230732008-05-02T18:41:00.001-07:002008-05-02T18:41:38.543-07:00BLISS THISBLISS THIS<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Stay away from my old swamp<br />It´s cold and dark and damp<br />Oh, yes, I guess I love the mess<br />That hides beneath my false distress<br />No trees, no breeze, no lust, no leaves<br />My madness coupled with disease<br />All your screams are muffled dreams<br />And all your hope lies with the fiend<br />Everything that you most fear<br />Is waiting for your face in here<br />Hold me, hold me, metal tonsils<br />Abort me, blind eyes of justice<br />I have thrived, thus I have failed<br />Thou art but my truth unveiled<br />I couldn´t bear the birth of dawn<br />Hence cometh the weight of night upon<br />Bliss, bliss, remember this<br />I might be slain by a word amiss<br />Bliss, bliss, art not remiss<br />I might be saved with a simple kiss.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-74289599647962976392008-05-02T18:34:00.001-07:002008-05-02T18:34:57.549-07:00PERFORMANCEPERFORMANCE<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Bebia o velho poeta num canto de bar<br />Sozinho, esperando um metafórico apagar de luzes<br />Melancólico<br />Equilibrista<br />De lados opostos de seu bastão de cristal<br />Um cigarro seca o copo<br />Um gole apaga a chama<br />"Estou livre do verso, estou livre da trama!"<br />Jovens sóbrios caçoam do velho<br />O garçom ébrio reclama<br />Então, à meia-noite,<br />Voa longe a tampa do tempo<br />No canto escuro do barzinho sisudo<br />Nasce um personagem absurdo<br />"Sou o bêbado, sou o vagabundo,<br />sou o maior equilibrista do mundo!"<br />"Silêncio," bradou uma voz lá do fundo<br />E o poeta, moleque, fez-se de surdo,<br />"Sou seu beatnik, sou seu punk, sou o que há de mais imundo!"<br />Calou-se a platéia de incrédulos debutantes<br /><br /><br />Um garçom sóbrio, inexplicável<br />No qual ninguém havia reparado<br />Trouxe um candelabro de ossos<br />Uma a uma, as lâmpadas se apagaram<br />E se pôs a funcionar o gramofone quebrado<br /><br /><br />O futuro passou com escândalo<br />Silenciosamente, fez-se presente<br />E fugiu pelo espelho da contradição,<br />Deixando o poeta no meio do salão:<br /><br /><br />"Sim, vivi a vida, talvez<br />Como poucos coçaram a ferida<br />Como poucos comeram-na viva<br />Não sei, é claro<br />O que virá em seguida<br />Um sol hepático<br />Uma lua enfisemática<br />Uma aurora boreal sifilítica<br /><br /><br />Mais um dia<br />Homem, sorria!<br /><br />Nunca olhei horizontes<br />Pois cada curva me dispersa<br />Eu olhava o que eu seria<br />E via o que eu não queria<br />O tempo passa, e a vida, devassa,<br />Escancara aos abutres a minha carcaça<br /><br /><br />A fonte da vida!<br />A chama da vida!<br />A fonte apaga a chama<br />Que a água vaporiza...<br /><br /><br />Venham, abutres!"<br />E todos nós fomos.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-72910844179729410942008-05-02T18:32:00.000-07:002008-05-02T18:33:01.833-07:00ILUSÃOILUSÃO<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Angústia<br />Sentimento que aflora<br />À flor da pele<br />Não perdoa e me devora<br /><br />Angústia sem motivo<br />Sem porquê nem por que não<br />Triste prazer masoquista<br />Triste forma de ilusão<br />Desilusão<br /><br />Qualquer alegria é fogo de artifício<br />Uma dança de máscaras<br />Numa cerimônia de morte<br />Luto, véu e grinalda<br />Pai, filho e espírito<br />Pranto<br /><br />Fecham-se as paredes em torno do canto.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-75916728094196021482008-05-02T18:31:00.000-07:002008-05-02T18:32:14.580-07:00O OLHO NA FECHADURAO OLHO NA FECHADURA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />É como esconder um poema<br />Rasga o verso<br />Rabisca a estrofe<br />Sufoca a rima<br />Escondo então a pena assassina<br />É como saber a hora da morte.<br /><br />É como o arame farpado<br />Que cerca o horizonte<br />Corre livre pelos campos<br />Pelos rios, pelos montes<br />Corre livre, ó carcereiro<br />Faz de mim teu prisioneiro<br /><br />Baixa então o nevoeiro<br />Me procuro, mas não me vejo<br />Fecha então a porta do teu desejo.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-59945620869766238702008-05-02T18:30:00.002-07:002008-05-02T18:31:17.719-07:00PASSOSPASSOS<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Sinto-me denso<br />Sinto-me absurdo<br />Tirem a mente de minhas mãos<br />Pois cada linha que escrevo<br />É um degrau a mais que desço<br />Rumo ao nada!<br /><br />Do nada extraio nada<br />O nada trabalho com esmero<br />O nada moldo em desespero<br />Para obter o nada perfeito<br /><br />Hesitação.<br /><br />Passo a passo, sem corrimão<br />Enxergo nada na escuridão<br />Mas sinto o peso, e desço mais<br />Caminho tenso, sem olhar para trás<br />Não posso parar,<br />Senão me tiram a escada<br />Então cairei, mergulhando no nada.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-88065584662197229752008-05-02T18:30:00.001-07:002008-05-02T18:30:33.558-07:00O PRECIPÍCIO EMBUTIDOO PRECIPÍCIO EMBUTIDO<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Muito pouco foi dito<br />À beira do precipício<br />Nenhum gesto, nenhuma farsa<br />Nenhum sentido embutido<br />Apenas um passo em falso<br />Rumo ao baque inevitável<br />Lá no fundo da ravina<br /><br />É como a queda de um cofre<br />Que se faz em mil pedaços<br />Explode e espalha seus segredos<br />Pelas águas de um riacho<br />Que sobe o morro até a nascente<br />Finalmente<br /><br />Muito pouco foi dito<br />À beira de um momento propício<br />Nenhum gesto, nenhuma lágrima<br />Nenhum sentimento explícito<br />Apenas um grito.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-30231933508079583672008-05-02T18:29:00.001-07:002008-05-02T18:29:38.771-07:00FUGAFUGA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Estou em fuga de um lugar para outro<br />Mas creio serem o mesmo<br />Creio não ser eu mesmo<br />Mas jamais serei o mesmo<br />Mesmo porque, isso nunca fui<br />Mesmo assim, busco uma saída<br />Para o lugar de onde todos fogem<br />Não me acho certo nem errado<br />Pois assim saberia onde estou<br />Saberia até quem sou<br />O que, em si, já seria lamentável<br />Assim perderia a liberdade<br />De ser aquilo que eu quiser.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-30457748573754356362008-05-02T18:26:00.000-07:002009-08-12T15:48:24.440-07:00CLAUSTROCLAUSTRO<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Cada detalhe<br />Fragmento de lembrança<br />Bombeia o passado em minhas veias<br />E ele volta<br />Com um estrondo milenar<br />Preenchendo os espaços do meu claustro<br />Ecoando pelos cantos<br />Rachando as paredes<br />E formando túneis<br />Túneis que fatalmente me levam<br />A lembranças cada vez mais remotas<br /><br />Tornei-me estático<br />Cheguei a lugar nenhum, outra vez<br />Nas ruínas de onde tudo começou<br />Coloquei o passado na estante<br />Mas ela desabou<br />E tudo se espalhou por onde agora piso<br />Vozes, nomes, datas, rosto<br />Vozes, nomes, datas, corpo<br />Restos.<br /><br />Cansei de fingir que vivo no presente<br />A saudade morde a carne dura<br />E tira pedaços de vida crua<br />Bebe o vinho e só deixa o pão<br />A água<br />E o silêncio.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-43149618597408429302008-05-02T18:25:00.001-07:002008-05-02T18:25:24.223-07:00CAPTURACAPTURA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Quisera eu regressar no tempo<br />Até o instante de tua partida<br />Prender-te em meus braços<br />Com laços de aço<br />Cercar-te de mim pelo resto da vida<br />Tentar impedir tua fuga insegura<br />Quisera ter feito tamanha captura<br />Mas minha vida está cheia de rosas<br />Brancas, vermelhas ou mudas<br />A perda me envolve com a dor da ruptura<br />O solo que morre, o Sol que se afasta<br />As flores queimadas, é o fim da procura<br />A mão que me afaga me aperta a garganta<br />E o riso sintético esconde a loucura.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-48849334996907369242008-05-02T18:24:00.001-07:002008-05-02T18:27:39.398-07:00CERTEZACERTEZA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Já queimei todas as máscaras<br />E agora só resta eu<br />Finalmente aprendi a ser um ser confuso<br />Aprendi a me perder e a procurar<br />A minha própria solidão<br />Sou um ser dependente de uma seta<br />Para um futuro que caminha a passos largos<br />E se afasta<br />Por uma estrada que eu já trilhei<br />Eu tinha certeza!<br />Eu tinha certeza...<br />E hoje em dia a certeza não me diz mais nada.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-6107257688785286222008-05-02T18:22:00.000-07:002008-05-02T18:23:26.009-07:00LOUCURA LÚCIDALOUCURA LÚCIDA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br /><br />Mais uma vez me escondo<br />E portas se fecham atrás de mim<br />Abro os portões do meu mundo<br />Como uma criança que invade um jardim<br />E só por ser diferente<br />Por não mostrar que estou contente<br />Eu apodreço aqui<br />Mas disso não me acusarão<br />De louco, não<br /><br /><br />E a sensação de abandono vem<br />E te faz refletir<br />Mais um louco se mata aos poucos<br />Sem o mundo sentir<br />E cada louco que morre<br />Leva junto uma história<br />Triste, curta e singela<br />De alguém que não soube fingir<br />Me acusarão<br />De louco, então.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-28771912421668628962008-05-02T18:21:00.000-07:002008-05-02T18:22:36.960-07:00FILOSOFIAFILOSOFIA<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Layla chorava no canto do quarto<br />Lendo aquele livro do famoso filósofo<br />Upside Down<br />No outro canto, no berço<br />Seu filho ria<br />Daniel, pequenino, nada entendia<br />Layla chorava no canto do quarto<br />E cada página que rasgava, doía<br />Seu conto de fadas acabara<br />Sua redoma de cristal explodira<br />Daniel, do berço, ainda ria<br />E Ivo, na biblioteca, lia tratados de Antropologia<br />Ele sabia<br />Layla pensava na carne e na volúpia que sentia<br />E a cada página que rasgava, tremia<br />Daniel ria<br />Daniel também sabia<br />Ivo lia violentamente na biblioteca escura<br />E do canto do seu olho uma lágrima corria<br />Ao lado do livro, uma arma reluzia<br />Ivo lia desesperadamente na biblioteca vazia<br />E Daniel, pequenino, tudo entendia<br />No canto do quarto, Layla já não chorava<br />Coberta de conceitos de Filosofia<br />Em sua mão sangrenta, o brilho de uma lâmina<br />Fria.<br />Daniel dormia<br />Esperando o amanhecer de uma casa vazia<br />E sonhando em viver, ele também<br />A paixão que ainda não conhecia.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4649148299889450917.post-51319805948155102122008-05-02T18:20:00.000-07:002008-05-02T18:21:09.832-07:00HONTEMHONTEM<br />Eduardo B. Penteado<br /><br /><br />Sinto-me oco<br />Então bebo da água de hontem<br />Ela tem gosto de ossos secos<br />E resquícios de outros gostos<br />A água de hontem tem gosto de corpos<br />Frios corpos funestos<br />A água de hontem sai de corpos mortos<br />Corpo, rosto, objeto<br />Encho o meu copo e acabo com o fastio<br />Encho o meu corpo de um espaço vazio<br />Sinto-me louco<br />Então inundo-me da água de hontem<br />Ela tem gosto de vermes secos<br />E resquícios de outras mortes<br />A água de hontem emana dos cortes<br />Na pele de corpos inertes<br />Dermes<br />De onde exala o odor mutilado<br />Enoja-me a visão de meu corpo jugulado<br />Sinto-me pouco<br />Então afogo-me na água de hontem<br />Ela tem gosto de todos os meus medos<br />E resquícios de velhos horrores<br />Ela encerra espectros e esqueletos<br />E ressuscita minhas dores<br />Neutraliza minhas cores<br />A água de hontem secou as minhas flores.Eduardo B. Penteadohttp://www.blogger.com/profile/09600259083668147444noreply@blogger.com2